domingo, 21 de outubro de 2012

A angústia de viver tudo nos fazendo viver tudo. Pela metade...


Vivemos como se o atraso fosse uma condição estabelecida no momento em que os olhos se abrem toda manhã. O amanhã é um tempo que começou há uma semana. Hoje já está acontecendo há quinze dias. No ócio, a eterna sensação de desperdício.

O senso de urgência se torna o combustível da afobação. Afobados, por todos os lados, em todas as línguas, de todas as cores, vivendo como se não houvesse amanhã. E da afobação à intolerância, um respiro. É festa? Não há álcool suficiente para quem não pode se dar ao luxo de não gostar de um programa. Há de gostar. Há de ser bom. A frustração é sinônimo de perda de tempo, e não de aprendizado.

O sentimento é que esse comportamento é uma obrigação. Não está certo se não sugarmos até a  última gota de cada dia. Há sempre alguém nos cobrando intensidade. A namorada, o chefe, a TV, a família, os vizinhos. Nós mesmos. O senso comum.

Por isso, sempre tentamos viver tudo de qualquer experiência pela qual passamos. É como se estivéssemos a todo momento naqueles jogos de guerra em que temos que desbravar um mapa e, se não o fizermos, perderemos algo extremamente importante. A sensação de incompleto nos persegue de tal maneira que não há permissão para gastar um minuto a mais naquilo que se gosta, em prol da busca de algo que seja ainda melhor. Mas que, na maioria das vezes, não vem.

Impensável a leviandade de deixar algo para trás. É uma cegueira coletiva que faz com que a busca da felicidade seja eterna. Afinal, com este pensamento, a felicidade estará sempre no passado.

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2 comentários:

  1. Se a felicidade está sempre condicionada a um desejo, a algo que nos falta, é natural (e conceitual) que ela nunca chegue, não? Acho que isso - e o seu texto - explicam nossa sensação de incompleto.

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  2. Excelente reflexão, dias desses postei em alguma rede social, "parem os relógios", estão me cobrando uma velocidade que não tenho e sinceramente não quero ter. Não ligo de ser atrasado, ligo por não compreenderem meu tempo e atrelarem isso à falta de talento ou competência. Acredito sim que frustração é aprendizado, meu sobrenome é frustração e sou tudo que sou por ela (e não sou pouco). Me recuso a atropelar o mundo e a mim mesmo. Seu texto veio pra fortalecer o que penso e me lembrar que não tô sozinho nessa angústia. Muito bom!

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